LArtEN — Laboratório de Arte Espectro Neural

Luiza Helena Guimarães
7 min readMay 21, 2020

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Espectros Computacionais 360º, Instalação Imersiva, Exposição ArtSonica, Centro Cultural Oi Futuro, Luiza Helena Guimarães, 2019

O LArtEN (Laboratório de Arte Espectro Neural) é uma empresa de art-science do segmento da economia criativa, com dinâmica de laboratório experimental e transdisciplinar voltado para a pesquisa, criação e produção de ambientes imersivos e interativos: CAVE (Automatic Virtual Environment), XR (Extended Reality), Fulldome e plataforma 3D online, entre outros.

A empresa é resultado de trabalhos artísticos que me levaram para a academia e, também, de minha constante busca e aprendizado por modos de sustentar, desenvolver e mostrar os dispositivos de art-science em base tecnológica, aos quais me dedico como artista e pesquisadora. Assim, o LArtEN possui um modelo de trabalho colaborativo e distribuído, nascido da necessidade, mas que vem propiciando a criação de projetos e protótipos de dispositivos artísticos para exposições, festivais, web etc..

Panorama 360º, CAVE, XR (AR, VR, MR) , Fulldome e plataforma 3D online, são distintas denominações usadas para agrupar a arte que faz uso da ciência e das tecnologias para criar, produzir, analisar e pesquisar dispositivos artísticos que apresentam diferentes intencionalidades, finalidades e poéticas, descritas em projetos singulares. Esses dispositivos são agregados espaço-temporais que pretendem dar conta das sensações e percepções humanas.

Mais especificamente, para serem arte, os dispositivos acima citados devem ter a capacidade de interferir nos fluxos de devires formados por perceptos e afectos sentidos em nossos corpos. Dirigem-se ao território que o filosofo Deleuze, ao longo de sua obra, atribuiu ao campo de conhecimento da arte, enquanto criadora de sensações e experiências.

No LArtEN, temos o intuito de investigar e produzir a arte agrupada pelo termo “Arte Espectro Neural” ou, simplesmente, “ArtEN”. Ela diz respeito ao recorte conceitual que reúne a parte da produção em art-science, que desafia os limites neurais humanos e não humanos, que coloca à prova e experimenta os conhecimentos e as sensações nos limites entre as redes neurais biológicas e ​​maquínicas. No nome do laboratório, “espectro” diz respeito aos perceptos e afectos humanos, e “neural” diz respeito aos sistemas neuronais humanos e não humanos impactados por dispositivos artísticos criadores de realidades virtuais.

Tendo por base os trabalhos já realizados e diante das expectativas de futuro por parte dos membros e equipes envolvidas na empresa LArtEN, o laboratório foi estrategicamente dividido em três segmentos interligados: 1- criação, desenvolvimento e implementação de protótipos para ambientes imersivos interativos tanto na abordagem que propicia a experimentação de várias pessoas simultaneamente (Panorama 360º, CAVE e fulldome), quanto na que propicia ambientes imersivos interativos para serem vivenciados individualmente (algumas formas de XR); 2- criação de plataforma virtual 3D online; 3- área de pesquisa e formação (online).

As ações, projetos e protótipos do LArtEN impactam diretamente a sociedade por meio da estética e por levantarem questões éticas que interagem com o constante redesenhar da humanidade e do mundo na contemporaneidade. Esse tipo de Impacto social é possível pela dinâmica e estrutura do laboratório ser transdisciplinar e multidimensional, o que também caracteriza os dispositivos de art-science.

A art-science se faz do contexto das redefinições do humano e de seus ambientes de vida, assim: como ela será diante da crise mundial causada pela atual pandemia? Em que meios e com que ferramentas será criada? Qual será seu papel no sociedade por vir? Que imaginários irá fomentar?

A crise causada pelo Covid19, além de reposicionar os antigos arranjos civilizacionais, fez emergir novos problemas sociais, políticos, econômicos e culturais. Em meio a crise e a quarentena, o que se supõem é que o “novo normal” vem sendo moldado e que já coloca em cheque todos os sistemas de vida que vigoravam até os primeiro meses de 2020.

As circunstancias são complexas, mas instigantes e desafiadoras, também para a empresa LArtEN, visto que, ela incorpora e opera desde o universo artístico e biológico, respectivamente, sensível e perceptivo formados pelos afetos e emoções humanas, até a universo pertencente as descobertas científicas e tecnológicas de ponta.

A empresa está alinhada aos desafios do futuro, o que se percebe até mesmo pelo recorte feito em relação a arte. O termo “Arte Espectro Neural”, direciona-se aos dispositivos que carregam em si uma abordagem singular e poética capaz de extrair usos inovadores e inusitados vindos de outras áreas de conhecimentos.

Consequentemente, os trabalhos do LArtEN potencializam achados científicos e tecnológicos, agindo na sociedade por meio de contágio exponencial produzido a partir de afetos estéticos, pertencentes ao território da micropolítica dos desejos, capazes de desencadear novas cartografias na sociedade.

Apontando mais em direção ao impacto socioeconômico e cultural do LArtEN, ele vem se caracterizando e diferenciando na descoberta ativa e inventiva diante dos impasses da prática cotidiana; está encontrando seus fundamentos e estruturado a sua existência na adversidade. Nasce de um terreno árido de recursos e tem buscado por modos próprios de sustentabilidade e montado suas redes de parcerias, nacionais e internacionais.

No intuito de atrair parcerias públicas e privadas de áreas artísticas, científicas e tecnológicas, a empresa tem contado com a qualidade de suas pesquisas teóricas e práticas. Durante os processo engendrados, oferece oportunidades para estudantes, desenvolvedores, engenheiros, cientistas de dados, designers, artistas, entre outros que aceitem incorporar os desafios inerentes a esse empreendimento. Sendo assim, a empresa é produto do impacto socioeconômico e cultural que vem gestando.

Pode-se dizer que outra característica que marca e diferencia os trabalhos do LArtEN é a de estarem mergulhados nas forças produtivas que atualmente controlam e modulam sociedade. Seus projetos e protótipos fazem uso de linguagens e mecanismos tecnológicos de controle e modulação dos corpos e da vida social e, por conseguinte, da produção de subjetividade individual e coletiva. Por exemplo:

  • “#EntracedEarthPanorama” incorpora mineração de dados, georreferenciamento vinculados as redes sociais (exposto no “Festival de La Imagen”, Colombia, 2016). Coloca em relação a arte imersiva interativa, a crise ambiental mundial e as redes de sociais de informação e comunicação;
  • “Espectros Computacionais 360/3D (EC360)”, (recentemente desenvolvido durante a Residência ArtSonica/ LabOIFuturo/RJ, 2018, e exposto Centro Cultural Oi Futuro, RJ, 2019). EC360 faz parte de uma série de trabalhos iniciados em 2002 com ressonâncias magnéticas de cérebros humanos. Trata-se de uma instalação imersiva e de um ambiente VR, que trabalham conceitual e esteticamente com as emoções cérebro-corporais afetadas por ondas eletromagnéticas de luzes, sons e ritmos cerebrais.

Pensando no futuro da humanidade e em seus ambientes e sistemas de vida, “#EntracedEarthPanorama” e “EC360” levantam questões éticas de nosso tempo e apontam para futuros possíveis. Ambos trabalhos artísticos revelam as duas grandes vertentes que agrupam as maiores preocupações com a vida na: o primeiro trata da crise ambiental mundial (Antropoceno); o segundo diz respeito a cognição humana e maquínica, faz uso de pesquisas de IA e de bioengenharia (AI) empregada na redefinição da humano.

Estas duas vertentes afetam e mudam os empregos, a geração de renda, a educação, nossos modos de agir, pensar e viver. Estamos realmente construindo e criando coletivamente o futuro da Terra e da humanidade digital. Neste ano, em uma entrevista, o futurista Gerd Leonhard disse que hoje 21 milhões de pessoas trabalham em redes sociais. O que, sob o viés da macropolítica, reflete-se na estratégia dos governos em relação a formação de profissionais para o mercado. No entanto, é também uma questão da art-science, como micropolítica dos desejos, na qual o LArtEN se insere.

Neste momento crítico da pandemia mundial, que já se constitui em um marco civilizatório, a sensação que tenho é que algumas transformações digitais estão atrasadas. Ou melhor, percebo plataformas online de extended reality (XR) voltadas para a arte/cinema imersivo interativo em VR e AR já deveriam existir com mais força e vigor. Elas estariam fornecendo ao público o que há de mais inovador, potente e contagiante nos cenários da arte nacional e internacional.

A arte é capaz de gerar contágios e engendrar novas possibilidades, propiciando, por um lado, alianças concretas e impacto socioeconômico, por outro, impacto sociocultural. O LArtEN abre perspectivas para um mundo que não sabemos qual será, mas que por certo está sendo projetado neste século.

Biografia resumida

Luiza Helena Guimarães é fundadora e diretora do LArtEN (Laboratório de Arte Espectro Neural). Pós-Doutora em Comunicação e Cultura pela UERJ; doutora pelo Núcleo de Subjetividade da PUC / SP, com apoio da CAPES na Faculdade de Educação Visual e Plástica e Comunicação Audiovisual e no Laboratórios de Mídia Interativos, ambos da Universidade de Barcelona-ES (2008–2012); mestre em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação / ECO / UFRJ (2005–2007). É pesquisadora do TransObjetO, Programa de Estudos Pós-Graduados em Tecnologias da Inteligência e Design Digital / TIDD / PUC / SP (2018-) e Laboratório de Preservação e Gestão de Serviços Digitais / LABOGAD / UNIRIO / RJ (2018-); membro da comissão organizadora e científica do Congresso Internacional de Humanidades Digitais / HDRio2018 / 2020; coordenadora de Artes de Expressões Digitais desse mesmo congresso. Fui curadora da exposição DizVirtual-RV (do LAA — Museu do Amanhã / no Centro Cultural da FGV). Também fui pesquisadora do CIBERIDEA (2007–2014). Criou e dirigiu: EntangledNET, 2006; Sagradas Torres, filmado nas Torres do Templo Expiatório da Sagrada Família, Barcelona-ES, 2011; #EntrancedEarth_Panorama (realizada pelo GEGRADI / UFPel, empresa de Inteligência Computacional TWIST e com composição eletroacústica de Ricardo Dal Farra), Festival de La Imagen, Balance Unbalance, Centro de los Museos, Colômbia, 2016; Espectros Computacionais 360º (em parceria com Ricardo Dal Farra (Argentino / Canadense), João Silveira (Brasil), Randolpho Julião (Brasil), residência ArtSonica / OiFuturo / RJ, 2018 e exposição no Centro Cultural Oi Futuro, RJ, Brasil, 2019.

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Written by Luiza Helena Guimarães

Artist-researcher, performer, entrepreneur, creator, screenwriter and director of immersive media. Vice-President of the ABHD and director of LArtEN.

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